Publicado por: Carlos Borges Bahia
Publicado em 10 de abril de 2024

Tudo começou no dia 12 de janeiro de 1984 o primeiro comício que aconteceu na Boca Madita de Curitiba. O movimento tomou conta do país, e a população lotou as avenidas de várias capitais brasileiras em defesa de eleições diretas para presidente da República.

O movimento das Diretas Já, teve o início em Curitiba, mais precisamente na Boca Maldita, ponto de encontro de políticos e ativista. A ideia surgiu militância jovem do MDB, que era um principal partido de oposição do governo militar. Foram 30 mil, depois 60 e mais de 100 mil pessoas participaram dos comícios na Boca Maldita, e a maioria eram jovens estudantes, que sonhavam com um país mais igual e justo.

Segundo advogado e escritor Dr. Lineu Thomás, na época as eleições presidenciais eram indiretas, e quem escolhia o presidente era a Câmara dos Deputados. O eleitor podia escolher o vereador, o deputado estadual, federal, senador, mas não podia escolher o presidente. Havia um forte anseio na sociedade em querer votar para presidente, a grande maioria dos brasileiros queriam escolher o presidente da República.

O movimento Diretas Já, que iniciou em Curitiba, teve apoio de vária cidades do inteiror do Paraná.

Lineu Thomás conta, que um grupo de jovens corajosos do MDB visitaram vários deputados para coletar assinatura de apoio ao movimento. Muitos políticos ficaram em ‘cima do muro”, com medo de sofrer possível represália. Mas depois do primeiro comício na Boca Maldita, outros deputados se encorajaram e abraçaram a causa. Nesta época, eu [Carlos Bahia] era acadêmico na Faculdade Católica, e lembro da professora de sociologia encorajando todos a particiapar desse movimento que mudaria o Brasil.

Curitiba foi palco, em 12 de janeiro de 1984, do primeiro grande comício em todo o país da campanha Diretas Já. “Foi um acontecimento marcante. Nós lotamos a Boca Maldita com uma convocação bastante amadora. Dissemos que íamos fazer, distribuímos alguns panfletos e só”, lembra o advogado e ex-deputado estadual e federal Nilson Sguarezi. “Mesmo assim, o povo compareceu. E vieram porque a causa era boa. Havia, no mínimo, 30 mil pessoas na Boca”, diz ele.

Segundo o advogado Luiz Haj Mussi, que era secretário de Segurança do Paraná na época, e foi incumbido para manter a ordem do evento. “Sabíamos que corríamos um risco muito grande. Além de sermos pioneiros, ainda havia um clima de medo e de angústia, sem saber o que podia acontecer. [Seria semelhante com que está acontecendo nos dias de hoje no país com os protestos contra as urnas eletrônicas, com muitas pessoas amedrontadas e coagida com medo de a qualquer momento ser banido das redes sociais ou preso pela polícia federal por crime de opinião].

A rede Globo nesse período era absoluta em audiência, e também parceira do governo militar, não deu cobertura desses acontecimentos em Curitiba. Contudo, o movimento tomou conta de outras capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, e tomou conta do Brasil. Foi então que a Globo correu atras das outras mídias, e, para não ficar de fora da notícia, passou da divulgar o acontecimento político.

Brizola com o governador do Paraná José Richa e Tracredo Neves.

O gaúcho Leonel Brizola, logo abraçou a proposta das Diretas Já. Ele se dispôs a interditar toda a Avenida Presidente Vargas para que o evento pudesse ocorrer. Foram colocados balões iluminados com gás hélio.

Cobertura jornalística

O fotógrafo Rogério Reis trabalhava na revista Veja em 1984. Às vésperas do comício no Rio, a revista percebeu que o evento prometia ser grandioso, por causa do número de doações espontâneas feitas para os organizadores em uma conta do Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj).

Artistas, radialitas e jornalistas

Entre os artistas, Chico Buarque, Maria Bethânia, Lucélia Santos, Cidinha Campos, Chacrinha, Cristiane Torloni, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Bruna Lombardi, Maitê Proença, Walmor Chagas. Também havia famosos como o jogador de futebol Reinaldo, o cartunista Henfil, a apresentadora Xuxa e a atleta de vôlei Isabel. E na apresentação principal, a voz do “locutor das diretas”, o radialista esportivo Osmar Santos.

Brasil a fora

Cidades de todas as regiões do país passam a ter manifestações. O destaque é para a chamada Caravana das Diretas, em fevereiro de 1984, que percorre cidades do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Em 24 de fevereiro, Belo Horizonte registra até ali o maior público de um comício, estimado em 400 mil pessoas. Esse número só seria superado pelo comício do Rio de Janeiro, na Candelária, e pela passeata de São Paulo, que saiu da Praça da Sé até o Vale do Anhangabaú. Ambos, ocorridos em abril, ultrapassaram a marca de 1 milhão de pessoas.

Apesar de toda essa mobilização popular, semanas depois, em 25 de abril, é votada a Emenda Dante de Oliveira no Congresso. A derrota vem por diferença de 22 votos. O primeiro presidente da República depois do regime militar, Tancredo Neves, seria escolhido por eleição indireta no Colégio Eleitoral.

Vale lembrar que essa campanha por conta daquilo que ela traz de oposição ao autoritarismo e de defesa da democracia. Contudo, não se pode negar que o governo militar teve muitas conquistas estrutural que foi importante para a viabilidade o futuro desenvolvimento econômico do país, porém, teve custo econômico e social.

A dívida externa que em 1964 era de R$ 3 bilhões passou para R$ 100 bilhões no fim do governo militar, e hoje o que preocupa é a dívida interna, que passa de R$ 2 trilhões.

As Diretas Já mostraram que o povo brasileiro se colocou decididamente contra a ditadura militar, e, no entanto, hoje vemos novas forma de ditadura imposta pelo judiciário e pelos executivos, que articulam contra a liberdade de expressão e controle das redes sociais.

Fonte: Agência Brasil/Gazeta do Povo (texto reproduzido)

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