Publicado por: Carlos Borges Bahia
Publicado em 29 de maio de 2025

Eles esperavam uma ministra compassiva aos projetos do governo, mas encontraram osso duro de roer

O conflito no Senado começou quando o senador Omar Aziz (MDB-AM), que é da base do governo Lula, acusou Marina de travar o desenvolvimento do país, com duras críticas a política ambiental do MMA. O senador Aziz ao não concordar com as agumentações da ministra Marina, usou como estratégia interromper até começar um bate boca, entre os dois.

O líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), presente na sessão, foi omisso, não se manifestou durante o bate-boca. Após a audiência, o petista soltou nota oportunista, condenando os ataques à ministra. “Não pode ser tolerado”, disse em uma rede social.

Tiro-amigo

Outro que foi desrespeitoso, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) também da base do governo, que disse que Marina não merecia respeito como ministra, [insinuando que ela não fosse a pessoa competente para o cargo que ocupa]. Neste momento o clima ficou tenso quando a senadora se sentiu ofendida e passou a discutir e gritar com os colegas. Diante do bate-boca o senador Marcos Rogério (PL-RO) pediu pela ordem, e contestado também pela senadora. O senador, então, repreendeu a Marina e mandou ela se colocar “no seu lugar”.

Após o senador Plínio dizer que Marina não merecia respeito, o líder do PT na Casa, senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu a fala e defendeu o direito de a ministra abandonar a Comissão por causa das falas desrespeitosas. Marina Silva descontrolada e irritada com o bate-boca, abandonou a Comissão, e culpou a fala do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que disse que não a respeita como ministra.

O episódio com a ministra ocorre uma semana após o Senado da República aprovar, por ampla maioria, projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental no Brasil. Considerado por organizações ambientalistas como o maior retrocesso dos últimos 40 anos, o projeto foi duramente criticado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O caso ocorre ainda em meio às disputas pela exploração de petróleo na margem equatorial, próximo ao Amapá, projeto defendido pelo presidente da Casa, o senador Davi Alcolumbre (União-AP), defensor também das mudanças nos licenciamentos ambientais.

Para a professora e pesquisadora Michelle Fernandez, do Instituto de Ciência Política da UnB, para além das divergências políticas, houve um evidente caso de violência política de gênero, devido ao fato de a ministra ser mulher.

“Será que se fosse um homem naquele lugar, isso aconteceria? Existe uma leitura na sociedade de que aquele não é um espaço para as mulheres. Esse ‘coloque-se no seu lugar’, dito pelo senador Rogério, tem a ver com isso”, destacou.

Michelle Fernandez acrescentou que, mesmo sendo ministra de Estado e tendo sido senadora, deputada federal e candidata à presidência da República, Marina ainda é vista em um espaço que é tido como se não fosse para uma mulher.

Para a especialista Flávia Biroli, tentar silenciar e constranger são ações típicas da violência política para oprimir os mais vuneráveis: “O fato de ela ser uma mulher negra de destaque incomoda ainda mais a esses homens, para quem ela está ‘fora do lugar’. Seu lugar, para eles, seria o de quem não tem voz nem influência”, disse.

Fonte: Agência Brasil

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